segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Relativismo “católico”


“Vamos ver. Pusemos um título propositadamente contraditório, já que evidentemente nem existe nem é possível que exista um relativismo católico; seria algo como pedir a existência de um círculo que fosse quadrado.
O catolicismo não é uma filosofia, o que é óbvio, mas uma religião, ou melhor dizendo é a Religião, com maiúscula. E embora não seja em si mesmo um sistema filosófico, é certo que se apóia em uma concepção do mundo que coincide com a que historicamente se denominou realista, ou aristotélico-tomista. E dela toma a fundamentação que sua teologia reclama, pois o sobrenatural supõe o natural.
E dentro de tal realismo não tem cabimento um sistema contraditório como o relativismo, para o qual, sobretudo em terreno moral, não existem verdades universais, absolutas e eternas, mas tudo depende da pessoa, da época ou do lugar. E não tem cabimento pelo fato mesmo de que o realismo consiste simplesmente em proclamar que existe, independentemente da mente e da vontade humana, um universo (incluindo o homem mesmo) cuja ordem natural não necessita do olhar da inteligência humana para existir e persistir, mas pelo contrário se impõe a tal inteligência, cujo trabalho é contemplá-la e compreendê-la com precisão para poder viver de acordo com o real.
Então por que falamos de um relativismo “católico”? Porque hoje em dia se está difundindo entre os católicos mal informados uma idéia distorcida da misericórdia e do amor fraterno. Vejamos.
Ao próximo deve-se amá-lo, é o segundo dos mandamentos que resumem toda a obrigação do católico: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo. Mas o que hoje não se diz é que do próximo devemos amar mais a alma que o corpo, ou seja, o primeiro amor ao próximo é o amor à saúde e ao bem-estar de sua alma. Sem querer dizer com isso que o socorro de suas necessidades materiais não seja obrigatório também, mas que somente estabelecemos uma ordem de prioridades, de acordo com a nobreza de cada coisa; uma é a nobreza da alma e outra, a nobreza da ordem material.
Então hoje se difunde entre muitos católicos uma tendência a colocar as coisas ao revés e atender acima de todas as coisas às necessidades materiais, a tal ponto que as espirituais são consideradas secundárias ou não se lhes dá nenhuma importância. Falo aqui desses católicos cujo “apostolado” se reduz única e exclusivamente a mero ativismo social, sem investir jamais nem o mínimo esforço, por exemplo, no chamado à conversão, ao arrependimento, a levar uma vida sacramental e de oração, etc. Tudo isso desapareceu no “apostolado” de muitos católicos, sacerdotes e bispos incluídos.
De maneira que hoje assistimos ao espetáculo trágico de um catolicismo, ou melhor dizendo, de alguns católicos que renunciaram à busca do bem da alma, própria e alheia, para concentrar-se com exclusividade nas obras de assistencialismo social.
Esclareçamos algo: a Igreja desde sempre recomendou, ensinou, aconselhou, urgiu, a obrigação de todo crente de compartilhar, de dar, de ajudar, de socorrer, etc, as necessidades dos mais fracos. Basta recordar a lista de obras de misericórdia que todos aprendemos quando pequenos: dar de comer ao faminto, dar de beber ao sedento, vestir o desnudo, dar pousada ao peregrino, visitar o enfermo, etc. Mas este ensinamento estava enquadrado em uma ordem, em uma hierarquia, que punha por cima as necessidades da alma, própria e alheia, de tal maneira que havia que ocupar-se destas, sem descuidar daquelas. E assim entendeu sempre a Igreja e assim praticaram sempre os católicos. É nisto que hoje presenciamos a mudança.
Hoje parece que ganhou terreno entre os “católicos” a idéia de que aquilo em que se creia, a religião a que se pertença, a ideologia que se professe (incluídos o ateísmo e toda raridade oriental que exista) é o de menos, e que o católico, longe de CONVERTER pessoas ao catolicismo, deve “FAZER O BEM”, entendendo a palavra BEM no sentido de bem material, bem físico, assistencialismo social, etc.
E ISTO TRANSFORMOU MUITOS “CATÓLICOS” EM FILANTROPOS E HUMANISTAS, NOS QUAIS O CATOLICISMO JÁ É SOMENTE UMA PÁLIDA SOMBRA DA QUAL SÓ SOBREVIVE O NOME.
Deste mal morre atualmente o apostolado católico, e é um mal que se difunde, desgraçadamente, a partir do clero mesmo, o qual, vítima de uma formação deficiente a nível teológico e filosófico, assumiu seu sacerdócio a partir da ótica da preocupação exclusiva pelo terreno. Adulteraram-se as fontes.
Urge recuperar o verdadeiro sentido do apostolado católico, e fazer certas coisas sem descuidar das outras.”

Original em http://itinerariummentis1.blogspot.mx