quinta-feira, 28 de setembro de 2017

A angústia de um insone

“Desperto desconcertado, aturdido, pensando se realmente o que vivemos é somente um sonho, ou se perdi a capacidade de reação diante da asfixiante realidade.
Será que Deus nos abandonou, ou nos está castigando a todos? Sabemos que Deus faz chover sobre justos e pecadores. Será que isto estava escrito que tinha que se passar ou é simplesmente a consequência lógica da perversa sucessão de acontecimentos dos quais todos somos responsáveis?
O certo é que a realidade se faz difícil de suportar, e muito embora a maioria opte por abrir os olhos somente ao que não os comprometa, ainda restam aqueles que preferem tratar de continuar mantendo o senso comum, e não somente por uma questão de princípios, mas como uma maneira de não deslizar neste tobogã de autocondescendência que sabemos que cedo ou tarde conduz tanto ao inferno terrestre como ao supraterrestre. Mas neste manter-se com os pés real e verdadeiramente sobre a terra, enquanto mantemos a visão sobrenatural da existência também enfrentamos a constante tentação de passar ao desânimo e ao desespero. A solução que se nos propõe é aceitar que nossa postura possa ser demasiado rigorista e para solucioná-lo devemos optar por filtrar o que possa afetar nossa psique.
Como é duro ter que enfrentar todo dia assumindo que praticamente toda pessoa com a qual interagimos está tão envenenada por esta ficção na qual querem crer como realidade, que se deve recorrer ao silêncio como única maneira de continuar! Solidão em meio à multidão.
Certa vez me disseram que não há ninguém mais realista que os loucos, que seus medos são completamente razoáveis e que o problema deles é que não podem aceitar essa realidade ou não se sentem com forças suficientes para lidar com ela e daí sua alienação. E assim se luta por manter o equilíbrio entre manter a fé e a sanidade, ou negá-las para sobreviver.
No reinado mundial da estupidez, a nós se propõe a aceitação de inumeráveis falsos axiomas não somente como imperativo de subsistência, mas também como forma de fazer-nos perder a fé. Temos que renunciar ao que sabemos, ao que raciocinamos coerentemente, desaprender o bem aprendido, retroceder no caminho do amadurecimento para simplesmente relaxarmos e não nos impormos cargas maiores que as que supostamente podemos suportar.
O mundo não somente nos impõe a silente aceitação da nova construção da história e da realidade, mas também forçar o senso comum a níveis onde o risco de insânia é incrivelmente alto.
Entre os novos paradoxos do sistema mundial imperante, está o que pretende uma lealdade ao regime que necessariamente implique desonestidade para com os demais. Temos que saber que trabalhar para este sistema, negociar com ele, requer não somente fechar os olhos a suas fraudulentas manobras, como também participar de seus benefícios que tão generosa como coercivamente a nós se impõem para não se poder aduzir que estamos “livres de pecado” e sermos dessa forma cúmplices. Assim a honestidade se torna divisível, fiéis aos que nos beneficiam, infiéis ao restante da massa que também faria o mesmo se estivesse em nosso lugar, à verdade, a Deus e a nós mesmos. E assim, esta desonesta honestidade ao regime, que se nos apresenta como a única possibilidade de trabalhar, de negociar, de “comprar e vender”, nos conduz irremediavelmente à anulação permanente de nossa possibilidade de pensar ou pensarmo-nos coerentemente. Uma vez mais se quer apresentar-nos este ocaso do senso comum como a forma menos perigosa de subsistir, mas o preço a pagar implica apagar tantas luzes em nossa inteligência, que enfrentar o caminho do futuro imediato às cegas significa igualmente o abandono da sanidade em prol da manutenção do conforto ou da subsistência mesma.
Sendo assim, qual é o caminho, se manter o senso comum baseado em nossa fé pode ser asfixiante, e não o fazer também nos leva à consciente colaboração com um sistema que cedo ou tarde sabemos cabalmente que nos devorará a todos?
Será que duvidamos da Graça? Será que realmente nos falta a fé? Certamente que ambas as perguntas podem ser respondidas afirmativamente, e a resposta parece antes encontrar-se no erro de tratar de ter fé mas somente através da razão, de confiar demasiado em nosso “senso comum” e por conseguinte em nossas forças, o que ainda implica involuntariamente em desconfiar da Graça. Talvez seja preciso mais recolhimento, ainda mais solidão, talvez buscar e confiar somente no que e em Quem verdadeiramente importa, deixando que o resto venha por acréscimo; e talvez seja também, somado ao anterior, questão de descansar um pouco melhor.”

Original em http://nacionalismo-catolico-juan-bautista.blogspot.com.br