sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Napoleão Bonaparte e a maçonaria

“A Revolução francesa tinha deixado claro o considerável papel da maçonaria como elemento de erosão de qualquer poder constituído. Pode-se argumentar que é possível que a própria maçonaria tenha sido superada pelo monstro que criou e que alguns irmãos maçons pagaram por isto – literalmente – com a cabeça. No entanto, a capacidade subversiva dessa sociedade secreta é inegável. Poucos souberam extrair melhor as lições pertinentes da Revolução que um general de origem corsa chamado Napoleão Bonaparte.
Há especulações sobre uma possível iniciação de Napoleão na maçonaria, que teria ocorrido em 1798, na ilha de Malta e no seio de uma loja maçônica formada majoritariamente por militares. As provas não são de todo conclusivas, mas não há dúvida de que Bonaparte utilizou conscientemente a maçonaria como um instrumento político.
Os dados a respeito são bem significativos. Quatro dos irmãos de Napoleão – bem como seu pai – foram maçons. Este foi o caso de José, que seria rei da Espanha; de Luís, rei da Holanda; de Luciano, príncipe de Cannino; e de Jerônimo, rei da Westfália. Não terão sido exceções. Joaquín Murat, cunhado de Napoleão e marechal, e seu enteado Eugênio de Beauharnais também foram maçons. Em relação aos marechais de Napoleão – e este é um dado bem significativo da penetração maçônica no exército – , vinte e dois entre os mais importantes eram “filhos da viúva”.
Napoleão tinha o firme propósito de controlar as lojas maçônicas e, com certeza, conseguiu. Quando Bonaparte tomou o poder, a maçonaria francesa encontrava-se dividida entre o Grande Oriente e o Rito escocês. Ele conseguiu, assim, que José Bonaparte fosse eleito grão-mestre do Grande Oriente, enquanto Luís conseguia o mesmo cargo no Rito escocês. Em dezembro de 1804, ambas as obediências se fundiram, com José como grão-mestre. Em sua imbricação com a maçonaria, Napoleão chegou ao ponto de forçar a entrada das mulheres nas lojas maçônicas para outorgar a Josefina o cargo de grã-mestra.
Dificilmente pode-se dizer que Napoleão fosse defensor da liberdade, mas ele era, sim, consciente da utilidade da maçonaria. Esta lhe permitia – como manifestaria no seu Memorial de Santa Elena – contar com um exército que lutava “contra o papa”, manter, com vigor, as forças armadas sob controle e a polícia em suas mãos, além de proporcionar-lhe um instrumento de captação e propaganda favorável ao domínio francês da Europa.
Não é de se estranhar, portanto, que os maçons se identificassem com a ditadura napoleônica que estava retalhando o mapa europeu a sangue e fogo. Um maçom, claro, compôs o seguinte hino de louvor a Napoleão:
Eis aqui o que conseguem o ouro e a traição:
Sozinho te vês, orgulhoso ilhéu!
Vais prolongar tua luta temerária?
Treme. Os deuses apóiam Napoleão.
Cede ou muito em breve este nobre grito de guerra
Ressoará nas entranhas de Albion:
Viva Napoleão!

É difícil acreditar que espanhóis, austríacos, russos ou prussianos compartilhassem o entusiasmo maçônico por Napoleão e não foram poucos aqueles que se sentiram indignados quando ele, em 1810, fez o papa prisioneiro e anexou os Estados Pontifícios. Mas se este episódio provocou horror nos católicos e em muitos que não o eram, causou regozijo entre os maçons. Napoleão não só estava vencendo as trevas clericais como, além disso, estava expandindo o ideário da Revolução francesa. Não causa surpresa que, quando os prefeitos franceses levaram ao fim uma investigação para saber se os maçons eram leais, o resultado foi que todas as lojas maçônicas identificavam-se com Napoleão. A única exceção encontrava-se no cantão de Genebra, que tinha sido invadido em 1798 por tropas francesas.
No resto dos países invadidos por Napoleão, a maçonaria também estava desempenhando papel de significativa importância. As forças invasoras e de ocupação foram criando, no seu caminho, lojas maçônicas nas quais tentavam integrar as elites nacionais, que, desta forma, ficavam submetidas a Napoleão. Foi assim, pela mão dos invasores franceses, que a maçonaria chegou à Espanha.”
(César Vidal, Los Masones: La Historia De La Sociedad Secreta Más Poderosa Del Mundo‏)